Trama golpista: o grande ‘perdedor’ dos interrogatórios, segundo os advogados dos réus

Ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro, o general Walter Braga Netto foi o “grande perdedor” nos dois dias de interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), avaliam reservadamente advogados ouvidos pela equipe do blog que atuam no caso da trama golpista.

Trama golpista: o grande ‘perdedor’ dos interrogatórios, segundo os advogados dos réus
Ministro Alexandre de Moraes durante fase de interrogários no STF — Foto: Cristiano Mariz/ O Globo

Na opinião de quatro advogados de diferentes réus do caso, Braga Netto não apenas complicou a sua situação como cometeu um erro estratégico ao dizer que não reconhecia as mensagens de celular usadas contra ele na acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolvimento numa intentona golpista para impedir a posse de Lula. Ao ser questionado, ele preferiu dizer que se tratavam de prints expostos de forma desconexa.

“Ficou difícil para o Braga Netto. Entendo que aquilo que é inquestionável, não se pode negar. Senão todo resto perde credibilidade. O que não é possível negar, você justifica – ainda que seja difícil. Caso contrário, até a verdade que você disser fica comprometida”, diz um dos defensores.

“Braga Netto saiu muito comprometido”, concorda outro advogado, com bom trânsito no meio político e jurídico.

Um dos maiores deslizes do general, na avaliação desses defensores, envolveu a resposta a uma pergunta do ministro Alexandre de Moraes sobre mensagens em que ele orienta ataques a colegas militares que se opuseram a uma articulação golpista para manter Bolsonaro no poder.

“E a apreensão de mensagens, onde uma mensagem do senhor, a mensagem é muito clara, diz: 'Para sentar o pau nele, preservar o almirante Garnier (ex-comandante da Marinha, réu na trama golpista), mas também criticar o brigadeiro Baptista Júnior (ex-comandante da Aeronáutica no governo Bolsonaro, que se opôs à ofensiva para impedir a posse de Lula). O senhor se recorda?”, questionou Moraes.

O relator fazia referência a uma troca de mensagens de 15 de dezembro de 2022, quando manifestantes golpistas permaneciam acampados na frente de quartéis para contestar a derrota de Bolsonaro. À época, Braga Netto pediu ao major reformado do Exército, Ailton Barros, para endurecer as críticas a Baptista.

Em resposta ao relator, Braga Netto alegou que as “mensagens no inquérito estão fora de contexto, descontextualizadas”. “Eu não me lembro de ter enviado essa mensagem, eu não me lembro de ter feito essa mensagem. Eu posso confirmar para o senhor, com certeza, eu jamais ordenei ou coordenei ataques a nenhum dos chefes militares”, respondeu o general.