Produção industrial cresce além do esperado em março e indica primeiro trimestre mais forte

Produção industrial cresce além do esperado em março e indica primeiro trimestre mais forte
Fábrica de automóveis em Resende (RJ) — Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP

A produção industrial brasileira avançou 1,2% em março, na comparação com fevereiro, segundo dados do IBGE. O resultado veio acima das expectativas do mercado, que projetava alta de 0,3%, e é o décimo mês consecutivo de crescimento na comparação anual, com alta de 3,1%. O desempenho positivo também motivou revisões para cima nos dados de janeiro e fevereiro.

Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, o dado surpreendeu positivamente e reforça a expectativa de um primeiro trimestre mais forte do que o previsto.

- Ainda assim, seguimos observando um cenário de desaceleração gradual da economia, com a indústria de transformação enfrentando desafios estruturais - ressalta.

A alta em março foi disseminada: 16 das 25 atividades industriais pesquisadas registraram crescimento. Entre os destaques, estão os setores de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (13,7%), veículos automotores (4,0%), coque e derivados de petróleo (3,4%) e indústrias extrativas (2,8%). Na outra ponta, produtos químicos (-2,1%) e alimentícios (-0,7%) puxaram os resultados para baixo.

As grandes categorias econômicas também mostraram, em sua maioria, desempenho positivo. Bens de consumo duráveis subiram 3,8%, enquanto os bens semi e não duráveis cresceram 2,4%. Bens intermediários avançaram 0,3%, e bens de capital foram o único grupo a recuar, com queda de 0,7%. A retração, somada à queda de 3,5% nos insumos típicos da construção civil, acendeu um sinal de alerta para a formação bruta de capital fixo — a chamada “proxy do PIB de investimentos em março”, considera Cadilhac.

Segundo André Valério, economista sênior do Inter, o bom desempenho de março foi puxado por setores exportadores, em linha com o superávit comercial de mais de US$ 8 bilhões no mês.

- Apesar do avanço, o ambiente ainda exige cautela. Os dados não captam os efeitos da insegurança gerada pelas novas tarifas internacionais, e os indicadores antecedentes apontam para uma possível desaceleração em abril.

Para o economista Stefano Pacini, da FGV Ibre, o resultado reflete uma recomposição de perdas após cinco meses de quedas ou estabilidade.

- É uma combinação de recuperações setoriais. Segmentos importantes como petróleo, farmacêuticos, vestuário e equipamentos eletrônicos mostraram retomada após meses de retração. O setor farmacêutico, por exemplo, recuperou toda a queda de fevereiro.

Para ele, o desempenho atual da indústria não deve influenciar diretamente a decisão do Banco Central na próxima reunião, já que o foco segue sendo o controle da inflação. Do ponto de vista da inflação, o economista da CM Capital, Matheus Pizzani, opina que cenário inspira algum nível de cautela:

- Além do fato de que a manutenção do consumo de bens industriais pode se traduzir em pressão adicional sobre a inflação, cujo comportamento também será afetado pelo ambiente externo e o resultado das negociações entre os Estados Unidos e os demais países afetados pela nova política comercial do governo Trump, é necessário considerar também que o avanço de setores com impacto sobre a estrutura de oferta do país, e consequentemente, sobre o hiato do produto, se faz à taxas de crescimento positivas, porém, decrescentes. Logo, para fins de política monetária, o resultado de hoje preocupa não só por conta do impacto quantitativo que pode gerar sobre os modelos de cálculo do hiato do produto, mas também ao considerar o comportamento prospectivo da economia e a possível continuidade e aprofundamento das restrições de oferta que afetam o país.

Fonte: Globo.com