Nascimentos e casamentos em queda, divórcios e uniões homoafetivas em alta: saiba tudo sobre os novos dados do IBGE
Desaceleração no número de bebês foi registrada pelo quinto ano seguido, com maior redução na região Sudeste

O retrato do Brasil revelado pelas Estatísticas do Registro Civil 2023 divulgadas ontem pelo IBGE mostrou um país com menos fraldas, mais rugas e um pouco mais de solidão. Ao mesmo tempo em que os 2.523.267 nascimentos representaram o menor número em 47 anos, houve uma redução da quantidade de mortes entre pessoas mais idosas, menos casamentos e mais divórcios.
A queda do número de bebês foi registrada pelo quinto ano seguido. A maior redução foi no Sudeste (menos 1,4%). O Centro-Oeste foi uma exceção à tendência de menos nascimentos, com um aumento de 1,1%. Os cinco estados com maior natalidade foram São Paulo, Minas, Rio, Bahia e Paraná. Na outra ponta, ficaram Roraima, Amapá, Acre e Tocantins. Percentualmente, a maior queda na quantidade de partos foi em Rondônia (3,7%).
As estatísticas mostraram que o número de mães com mais de 40 anos dobrou em 20 anos, passando de 2,1% do total em 2003 para 4,3% em 2023. Houve redução da quantidade de bebês gerados por mães com até 29 anos e mais gestantes acima de 30 anos (39%). Mas a principal faixa etária da maternidade continua a ser de 20 a 29 anos: ela abarca 49,1% dos partos.
A quantidade de mães menores de idade continua significativa, apesar da redução recente. Em 2023, 11,8% dos nascidos vivos foram gerados por jovens de até 18 anos, a maioria na Região Norte. Vinte anos antes, essa taxa era de 20,9%, mais de um quinto do total.
O inverno de 2022 foi o período de maior geração de filhos nascidos no ano seguinte, segundo o IBGE. O mês com mais nascimentos em 2023 foi março, com 233.432 partos. Em segundo lugar, vem maio (230.394). O mês com menos nascimento foi novembro (188.411) — contrariando a crença de que o carnaval é o período de maior fertilidade do ano.
Creches sentem
Os impactos da redução do número de nascimentos são sentidos em creches como a Mamãe, Posso Ir?, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. O sócio Jonatan Cunha, que assumiu a instituição no pós-pandemia, conta que tem enfrentado dificuldades para manter o número de matriculados.
— Quando chegamos, soubemos pelos vizinhos que antes o volume de crianças e alunos no entorno era muito maior. Tem persistido a dificuldade de conseguir recuperar o mesmo patamar.
Para Júlia Amin, doutoranda em Comunicação e Cultura na UFRJ e que pesquisa maternidade no século XXI, a queda da fertilidade está ligada à ascensão da mulher no mercado de trabalho e aos aumentos dos custos para cuidar de uma criança.
— Elas estão mais inseridas no mercado de trabalho e têm mais planos profissionais. Enquanto isso, ainda há uma discrepância enorme em relação à divisão sexual do trabalho doméstico. Isso também determina a escolha do número de filhos — explica. — Outro fator relevante são as incertezas socioeconômicas.
A falta de uma rede de apoio também tem sido mencionada por mães que não desejam ter outros filhos, conta a diretora pedagógica Paolla Teodoro, que comanda a creche Primeiro Andar, no Centro do Rio. Na instituição, ela afirma, entre as 32 crianças atendidas, apenas cinco têm irmãos.
— Tenho ouvido nos últimos anos que a questão financeira tem pesado bastante. Mas também existem dificuldades relacionadas a quem vai levar e buscar ou o que fazer quando a criança fica doente — conta Paolla.
Caem as mortes
As 1.429.575 mortes registradas no Brasil em 2023 representaram uma queda de 5% em relação ao ano anterior, de acordo com o IBGE. O instituto relacionou o recuo ao fim da pandemia de Covid-19.
Os registros civis também apontaram que a faixa etária que teve maior redução percentual foi a de pessoas com mais de 80 anos, onde houve 7,9% menos mortes. No resultado geral, 71% das mortes, no entanto, atingiram pessoas com mais de 60 anos.
Somente o Amazonas, o Mato Grosso, o Amapá e o Acre tiveram aumento de mortes, mas em uma variação pequena. Nas outras unidades federativas, houve queda nos números de um ano para o outro.
Os registros civis indicaram que em 2023 continuou a prevalecer o número de mortes entre homens. A cada 100 de mulheres, houve 121,2 do sexo masculino há dois anos.
Bahia (7,8%), Rio Grande do Sul (4,6) e Rio de Janeiro (4,3%) possuem os maiores percentuais de mortes com natureza ignorada, quando não há a informação na certidão de óbito. E os maiores números de causas não naturais (ou externas), que abrangem homicídios ou acidentes no geral, foram registrados no Amapá, no Tocantins e no Maranhão.
Fonte: Globo.com