Pânico na menopausa: como as mudanças hormonais afetam o cérebro e a saúde mental

Especialistas explicam como as mudanças hormonais podem influenciar sintomas de ansiedade e ataques de pânico

Pânico na menopausa: como as mudanças hormonais afetam o cérebro e a saúde mental
Quase qualquer interferência na vida normal das pessoas pode ser um possível obstáculo pra uma saúde mental plena — Foto: Pexels

Mais conhecida por sintomas como as ondas de calor, sudorese intensa à noite, alterações de humor e diminuição da libido, a menopausa causa mudanças que podem afetar a saúde mental.

Recentemente, a atriz Maria Clara Gueiros contou que enfrentou crises de pânico durante a menopausa, um sintoma pouco comum, mas que merece atenção.

Em entrevista ao gshow, o médico Igor Padovesi, ginecologista especialista em menopausa pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS), explica como ocorrem as mudanças hormonais no climatério e como elas podem impactar a saúde mental.

O médico explica que o impacto da menopausa no cérebro acontece antes mesmo da última menstruação, quando as mudanças hormonais que causam alterações de humor já se iniciam. Esse período de transição é chamado de perimenopausa.

"Isso tem sido cada vez mais mostrado pela Lisa Mosconi, que é a principal pesquisadora no mundo sobre o efeito dos hormônios no cérebro, principalmente o estrogênio. As variações hormonais que acontecem na transição para menopausa e pós menopausa impactam profundamente a função do cérebro, principalmente com relação ao humor", diz.

"Os fogachos, que são as ondas de calor, são sentidos no centro de regulação da temperatura corporal no hipotálamo, que fica no cérebro", complementa.

Menopausa precoce após transplante de medula óssea: por que isso acontece? — Foto: Getty Images
Menopausa precoce após transplante de medula óssea: por que isso acontece? — Foto: Getty Images

De acordo com o especialista, os sintomas envolvendo o humor e a saúde mental afetam, em diferentes graus, a maioria das mulheres. Assim, as manifestações mais comuns são:

  • ansiedade;
  • irritabilidade;
  • choro;
  • sintomas depressivos;
  • agravamento de sintomas pré-menstruais.

Apesar de não ser um sintoma comum desse período de mudanças hormonais, Igor Padovesi explica que a crise de pânico pode aparecer como uma manifestação exacerbada da ansiedade, principalmente em mulheres com um histórico de quadros de ansiedade e depressão.

"Elas ficam muito mais vulneráveis e suscetíveis a voltar a ter manifestações e sintomas nessa fase da transição para menopausa e pós-menopausa. E mulheres que nunca tiveram episódios ao longo da vida podem apresentar um primeiro quadro nessa fase, desencadeado pelas questões hormonais", destaca.

O que é pânico?

Para entender o que é uma crise de pânico e como ela se manifesta, gshow conversou com a psicóloga Rebecca Maciel, doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

"A gente chama de ataques de pânico os episódios que precisam ter pelos menos quatro dos critérios que o manual de diagnóstico traz, e normalmente tem a ver com uma alteração do nosso humor, que fica muito ansioso, e sintomas corporais, como taquicardia, sensação de falta de ar, sensação de asfixia, extrema sudorese, medo de perder o controle, de enlouquecer, medo de morrer", explica.

Assim, além de uma forte ansiedade, uma crise de pânico também podem envolver outros sintomas físicos:

  • tremores;
  • tontura;
  • dor no tórax;
  • náusea;
  • formigamento;
  • desrealização, quando a pessoa está num lugar que conhece, mas deixa de reconhecer;
  • despersonalização, quando acontece uma estranheza enquanto a si mesmo.

De acordo com a psicóloga, os sintomas de uma crise ou ataque de pânico podem ser causados por diferentes fatores relacionados a questões genéticas ou ambientais. Assim, há influência de aspectos como o momento de vida da pessoa, questões familiares, burnout no trabalho ou as mudanças hormonais típicas da menopausa.

"Pensando num período da vida como a menopausa, em que a pessoa dorme pior ou vai ter, por exemplo, a questão da sudorese e do extremo calor, isso vai criando estresse e, esse estresse, pode virar uma crise de pânico", diz.

"Às vezes a pessoa não tem a crise especificamente, mas ela pode ter alguns sintomas que podem levar a uma ansiedade generalizada. Ou ao que a gente chama de transtorno de pânico, que é quando a pessoa tem com muita frequência a crise de pânico, então ela fica por meses tendo várias crises o tempo inteiro", explica Rebecca.

Cuidados importantes

Além de se conscientizar sobre os sintomas da proximidade da menopausa, também é importante pensar nos cuidados necessários para evitar que o estresse ganhe espaço em um momento tão delicado.

"É claro que existe um aspecto medicamentoso para reduzir os sintomas, mas tem o aspecto de mudança de estilo de vida, de cuidado com esse momento da vida. Então, no caso da menopausa, o cuidado é para a pessoa reduzir o estresse que já virá naturalmente pela mudança hormonal. A gente precisa desse cuidado desde a pré-menopausa. Então, pessoas que já estão caminhando para a menopausa devem construir um estilo de vida mais tranquilo, ir ao endocrinologista, ginecologista, se cuidar na terapia...", elenca.

Por: GShow