'Brasil teve sucesso onde EUA falharam', diz New York Times sobre condenação de Bolsonaro

STF condenou na quinta (11) o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado e o sentenciou a mais de 27 anos de prisão. Artigo de opinião desta sexta assinado por autor de 'Como as Democracias Morrem' segue alta repercussão internacional da condenação.

'Brasil teve sucesso onde EUA falharam', diz New York Times sobre condenação de Bolsonaro
Artigo de opinião do jornal 'The New York Times', dos Estados Unidos, faz paralelo entre condenação de Jair Bolsonaro e democracia nos EUA. — Foto: Reprodução

O Brasil teve sucesso onde os Estados Unidos falharam, afirmou um artigo de opinião publicado nesta sexta-feira (12) no jornal americano "The New York Times" sobre a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), decretada pelo STF na quinta.

O artigo é assinado por Steven Levitsky, autor de "Como as Democracias Morrem" e professor de Harvard, e por Filipe Campante, professor da universidade Johns Hopkins, nos EUA.

"Esses acontecimentos contrastam fortemente com os Estados Unidos, onde o presidente [Donald] Trump, que também tentou reverter uma eleição, não foi preso, mas retornou à Casa Branca", afirmaram Levitsky e Campante no artigo.

O artigo de opinião contextualizou a reação de Trump —o republicano se disse surpreso e "muito insatisfeito"— à condenação com as sanções econômicas e a autoridades brasileiras, incluindo ao Alexandre de Moraes, para relembrar que os EUA tentaram subverter o sistema legal do Brasil durante o julgamento.

Depois, concluiu: "Na prática, o governo dos EUA está punindo os brasileiros por fazerem algo que os americanos deveriam ter feito, mas não fizeram: responsabilizar um ex-presidente por tentar reverter uma eleição".

A fala foi uma referência à invasão ao Capitólio 6 de janeiro em 2021 por apoiadores de Trump —Trump não foi responsabilizado juridicamente pelo incidente e libertou os presos em janeiro, quando retornou à Casa Branca.

Segundo os analistas, "os paralelos entre Brasil e EUA, que na última década enfrentaram ameaças iliberais, são notáveis". "Ambos elegeram presidentes com instintos autoritários que, após perderem a reeleição, atacaram instituições democráticas para se manter no poder", afirmam.

Os analistas defendem a tese que EUA e Brasil divergem quando se trata da reação aos atentados às respectivas democracias. "Os americanos fizeram muito pouco para proteger sua democracia do líder que a atacou, e os renomados freios constitucionais do país falharam em responsabilizar Trump por sua tentativa de reverter a eleição de 2020".

Além disso, os dois impeachments sofridos por Trump não surtiram efeito e ele concorreu em 2024 "apesar de seu comportamento abertamente autoritário", segundo Levitsky e Campante.

Os analistas falam em "fracassos institucionais custosos" para os EUA, porque o 2º mandato de Trump "tem sido abertamente autoritário, utilizando órgãos governamentais para punir críticos, ameaçar rivais e intimidar" diversos setores da sociedade civil, e com constantes desafios à lei e à Constituição americana.

O artigo de opinião também elogia a firmeza com que os juízes do STF trataram a gravidade da denúncia contra Bolsonaro e cita "provas volumosas" contra o ex-presidentes e seus aliados para reverter o resultado da eleição de 2022 e até assassinar figuras como o presidente eleito Lula, seu vice Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes. (Leia mais abaixo sobre a condenação no STF)

Condenação

➡️Por 4 votos a 1, o STF decidiu que Bolsonaro é responsável por todos os cinco crimes apontados pela Procuradoria-Geral da República (PGR), ligados aos atos que buscaram derrubar a democracia e impedir a posse de Lula como presidente entre o fim de 2022 e o início de 2023:

  • tentativa de golpe de Estado;
  • organização criminosa;
  • tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • dano qualificado;
  • e deterioração de patrimônio tombado.

Juntando as condenações por esses crimes, Bolsonaro foi sentenciado a 27 anos e 3 meses de prisão, além de ficar inelegível por 8 anos após o término do cumprimento da pena.

Repercussão internacional

  • The New York Times: avaliou que a condenação deve intensificar o conflito entre Brasil e Estados Unidos.
  • Reuters: destacou que Bolsonaro é o primeiro ex-presidente condenado por atentado à democracia.
  • The Guardian: disse que ele pode pegar décadas de prisão por liderar a conspiração.
  • Washington Post: ressaltou que defesa do ex-presidente vai recorrer.
  • Wall Street Journal: afirmou que a condenação deve inflamar a disputa entre Trump e Lula.
  • Bloomberg: destacou que Bolsonaro acusa o STF de perseguição política.
  • The Economist: lembrou fala do ex-presidente feita em 2022 e disse que o julgamento mostrou que "ele estava errado".
  • El País: avaliou que o Brasil deu um passo importante contra a impunidade.
  • BBC: explicou que o plano golpista culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
  • Clarín: afirmou que o julgamento de Bolsonaro é "histórico".

Fonte: G1