Bolsonaro era 'principal destinatário' das ações da Abin Paralela, diz PF

Relatório cita participação do ex-presidente em esquema de espionagem ilegal, mas ele não foi incluído em lista de indiciados

Bolsonaro era 'principal destinatário' das ações da Abin Paralela, diz PF
O ex-presidente Jair Bolsonaro durante interrogatório no STF — Foto: Ton Molina/STF/09-06-2025

A Polícia Federal (PF) afirmou, em relatório apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro era o "principal destinatários do produto das ações clandestinas e da instrumentalização da Abin".

"Jair Messias Bolsonaro figura como o principal destinatários do produto das ações clandestinas e da instrumentalização da ABIN, ao tempo, dirigida por Alexandre Ramagem conforme se depreende das próprias anotações do então Diretor da ABIN", diz o documento.

A investigação teve início após o GLOBO revelar, em março de 2023, a compra de um sistema espião pela agência para monitorar a localização de alvos pré-determinados em todo o país.

O relatório final da PF cita documentos encontrados com Ramagem que indicam que eram direcionados a Bolsonaro. Os textos tinham títulos como "Bom dia Presidente" e "PR Presidente". Na semana passada, em interrogatório no STF, Ramagem afirmou que não encaminhou os documentos para ninguém.

"Estas são evidências que corroboram a concorrência do então Presidente da República das ações delituosas perpetradas na ABIN", alega a PF.

A corporação diz ainda que os eventos descobertos pela investigação "demonstram que as ações eram realizadas para obtenção de vantagens precipuamente do núcleo político" e que "as ações clandestinas, portanto, tinham seus produtos delituosos destinados ao interesse deste núcleo com ataques direcionados à adversários e ao sistema eleitoral dentre outros".

A PF apontou a participação de Bolsonaro no esquema de espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), mas o ex-presidente não foi incluído na lista de indiciados porque já responde pela mesma acusação no Supremo Tribunal Federal (STF) na ação penal da trama golpista.

No relatório final da investigação do caso conhecido como Abin paralela, a PF apontou indícios da participação de Bolsonaro na rede de espionagem ilegal da agência de inteligência. Segundo investigadores, o ex-presidente tinha conhecimento do esquema e era o principal beneficiário dele.

Mas a corporação entendeu que caberá à Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliar se o ex-presidente deverá responder pelo crime de organização criminosa em dois inquéritos diferentes, o da Abin paralela e o da trama golpista.

Fonte: Globo.com