Suspeita de que piloto da Air India cortou combustível reacende debate sobre um tabu: a instalação de câmeras na cabine de comando
Os defensores da ideia dizem que imagens poderiam preencher as lacunas deixadas pelos gravadores de áudio e de dados. Já os pilotos temem uso das filmagens para eventuais punições, além de vazamentos: 'A morte de um piloto transmitida no noticiário não é algo pelo qual a família do piloto deva passar'.

A queda do voo 171 da Air India em junho reacendeu um debate de décadas na aviação: a instalação de câmeras de vídeo monitorando as ações dos pilotos de avião, da mesma forma que já fazem as caixas-pretas com gravadores de voz e dados de voo.
Uma das vozes mais influentes do setor, Willie Walsh, ex-piloto de avião e presidente da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), afirmou na quarta-feira (16), em Cingapura, que havia fortes argumentos para a instalação de câmeras de vídeo nas cabines de aeronaves para monitorar as ações dos pilotos e complementar os gravadores de voz e dados de voo já utilizados pelos investigadores de acidentes.
Especialistas em aviação afirmaram que o relatório preliminar do Departamento de Investigação de Acidentes Aeronáuticos da Índia (AAIB) levantou questões sobre se um dos pilotos do voo 171 da Air India cortou o combustível dos motores do Boeing 787 segundos após a decolagem, levando a uma situação de voo irrecuperável.
A queda em Ahmedabad, Índia, matou 241 das 242 pessoas a bordo, além de 19 pessoas em solo.
"Com base no pouco que sabemos até o momento, é bem possível que uma gravação em vídeo, além da gravação de voz, pudesse auxiliar significativamente os investigadores na condução da investigação sobre a questão da saúde mental [dos pilotos]", disse Walsh.
Os defensores das câmeras de vídeo da cabine afirmam que as imagens poderiam preencher as lacunas deixadas pelos gravadores de áudio e dados, enquanto os oponentes afirmam que as preocupações com privacidade e uso indevido superam os benefícios para as investigações.
As imagens em vídeo foram "inestimáveis" para os investigadores australianos, por exemplo, que determinaram o que levou um helicóptero Robinson R66 a se desintegrar em pleno voo em 2023, matando o piloto, a única pessoa a bordo, de acordo com o relatório final do Departamento de Segurança dos Transportes da Austrália (ATSB), divulgado 18 dias após o acidente com a Air India.
O vídeo mostrou que "o piloto estava ocupado com tarefas não relacionadas ao voo durante grande parte desse tempo, especificamente, o uso do celular e o consumo de alimentos e bebidas", afirmou o relatório australiano do caso.
O ATSB elogiou a Robinson Helicopters por fornecer câmeras instaladas de fábrica e afirmou que isso incentivou outros fabricantes e proprietários a considerarem os benefícios contínuos de segurança oferecidos por dispositivos semelhantes.
Fonte: G1