Papanicolau: entenda o que muda com o substituto do exame no SUS

O teste é um método moderno e inovador que faz parte do novo rastreamento organizado do câncer de colo do útero

Papanicolau: entenda o que muda com o substituto do exame no SUS
Objetos usados na coleta do teste de biologia molecular DNA-HPV Reprodução/João Risi/MS

O Ministério da Saúde começou a implementação do teste de biologia molecular DNA-HPV no Sistema Único de Saúde (SUS), que visa substituir o exame de Papanicolau. O exame é um método moderno e inovador que faz parte do novo rastreamento organizado do câncer de colo do útero na rede pública de saúde.

Ofertada inicialmente em 12 estados brasileiros, a tecnologia 100% nacional detecta 14 genótipos do papilomavírus humano (HPV), identificando a presença do vírus no organismo antes da ocorrência de lesões ou câncer em estágios iniciais.

A medida é do programa Agora Tem Especialistas do Ministério que aumenta as chances de cura pelo tratamento precoce. A oncologia é uma das áreas prioritárias do programa que visa reduzir o tempo de espera no SUS por atendimento especializado.

“Estamos aproveitando a infraestrutura criada durante a pandemia para os testes de biologia molecular. Essa estrutura agora será utilizada para o diagnóstico do HPV, permitindo reduzir o tempo de espera e iniciar o tratamento o mais rápido possível”, explicou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no Hospital da Mulher de Recife, em Recife (PE), onde a iniciativa foi lançada.

Sigla para Human Papillomavirus, o HPV é o vírus associado aos cânceres de colo de útero, vagina, vulva, pênis, ânus e orofaringe. De acordo com especialistas, cerca de 80% da população sexualmente ativa será infectada pelo patógeno em algum momento da vida. A Organização Mundial de Saúde estima que haja entre 9 e 10 milhões de brasileiros infectados e mais 700 mil novos casos diagnosticados por ano.

Ele é o terceiro tipo mais incidente em mulheres, com 17.010 casos novos estimados por ano, no triênio 2023-2025. Estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta 15 casos da doença a cada grupo de 100 mil mulheres. Por isso, a oferta do novo modelo de rastreamento é considerada um marco para a saúde da mulher em vista de uma série de benefícios.

Como funciona o novo teste?

Além de conferir maior sensibilidade diagnóstica, o novo teste reduz a necessidade de exames e intervenções desnecessárias, com intervalos maiores entre as coletas quando o resultado der negativo.

A coleta continua semelhante à do exame anterior, com retirada de secreção do colo do útero. A diferença é que o material não vai mais para lâmina, mas para um tubo com líquido conservante, enviado a laboratórios para análise do DNA viral. 

Estudos mostram que a detecção precoce pode ocorrer até 10 anos antes do surgimento de lesões identificáveis no papanicolau. Essa diferença aumenta a chance de tratamento e reduz a mortalidade associada à doença.

Produzido pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, ligado à Fiocruz, o teste molecular de DNA-HPV substituirá o exame citopatológico Papanicolau, que passará a ser realizado apenas para confirmação de casos em que o teste DNA-HPV der positivo.

Por ser mais eficaz, a nova tecnologia permite ampliar os intervalos de rastreamento para até cinco anos, aumentando a eficiência e reduzindo custos. 

“Com o Papanicolau, o exame precisa ser repetido a cada três anos. Com essa nova tecnologia, o intervalo passa a ser de cinco anos. Além disso, elimina a necessidade de nova coleta quando o resultado é inconclusivo — a mesma amostra já serve para todos os exames necessários, acelerando o encaminhamento ao tratamento”, explica Padilha.

O órgão diz que a implementação do novo teste DNA-HPV possibilitará o rastreamento em cerca de 5,6 milhões de mulheres em cinco anos, nos estados nos quais a iniciativa já começa a ser oferecida gradualmente: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Bahia, Pará, Rondônia, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, além do Distrito Federal.

A meta é que, até dezembro de 2026, o novo rastreio esteja presente na rede pública em todo o território nacional, beneficiando 7 milhões de mulheres com idades entre 25 e 64 anos anualmente. 

Pacientes do SUS terão acesso ao novo exame 

O público-alvo do rastreamento organizado são as mulheres cisgênero, incluindo homens transgênero, indivíduos não binários, de gênero fluido e intersexuais nascidos com sistema reprodutivo feminino. Para ter acesso ao novo teste molecular DNA-HPV, basta marcar uma consulta ginecológica regular nas Unidades Básicas de Saúde. O estado usará o cruzamento de informações de pessoas não vacinadas.  

Ainda segundo a pasta, serão disponibilizados kits e insumos do teste, treinamentos especializados para os profissionais do SUS e suporte diagnóstico por meio do Super Centro para Diagnóstico do Câncer, iniciativa do programa Agora Tem Especialistas que usa tecnologia de ponta para reduzir de 25 para cinco dias o resultado do parecer médico. 

Por último, o Ministério, em parceria com o INCA e o Hospital Israelita Albert Einstein, vai ofertar cursos de citopatologia.

Prevenção

A vacina contra o HPV é considerada a medida de prevenção mais eficaz. Disponível no SUS, é aplicada em dose única em meninas de 9 a 14 anos e em grupos específicos até 45 anos, como pessoas imunossuprimidas ou em tratamento oncológico.

O Ministério da Saúde afirma que a combinação entre vacinação e rastreamento com DNA-HPV pode acelerar a meta de redução da doença.

Por: O Globo