Pão francês X tapioca: nutricionistas definem qual é o mais saudável (o resultado é surpreendente); veja a diferença

Depois de ter perdido espaço na mesa dos brasileiros pela tapioca, nutricionistas defendem a volta do alimento à dieta, inclusive para quem quer emagrecer

Pão francês X tapioca: nutricionistas definem qual é o mais saudável (o resultado é surpreendente); veja a diferença
Especialistas definem qual opção é mais recomendada para uma dieta saudável Divulgação

Na chapa, com manteiga, requeijão, com ovo, queijo quente e americano. Todas essas receitas típicas do Brasil têm em comum um astro: o pão. Mas não qualquer pão. Na maioria das vezes, o pão francês (que de francês não tem nada) reina. A depender da região do Brasil, o nome é diferente. Pão de água e sal, cacetinho e pão de Jacó são algumas das variações do nome dado à receita que leva farinha de trigo, sal, fermento e água.

Mas nos últimos anos, o item mais essencial das padarias brasileiras passou a ser considerado o vilão da alimentação e eliminado de dietas “saudáveis” ou da alimentação de quem queria emagrecer. Agora, ele tem um retorno triunfal, com um crescente número de nutricionistas indicando o pão francês como pré-treino para academia ou em dietas de emagrecimento. Nas redes sociais, publicações do gênero feitas por especialistas se multiplicam e ganham popularidade.

— Há um tempo, algumas influenciadoras começaram a indicar a tapioca como a musa do emagrecimento, coisa que não é verdade. A tapioca é mais saudável do que o pão francês somente para pessoas que têm intolerância ao glúten. Mas para o público que não tem nenhuma doença, alergia ou intolerância, não tem problema nenhum comer o pão francês — completa o nutricionista e especialista em emagrecimento, Thiago Monteiro.

De fato, uma boa parte da má fama do pão francês é devido ao fato de ele conter glúten, assim como massas e outros alimentos à base de farinha de trigo. Mas o glúten é um a proteína presente também em outros cereais como o centeio, o malte e a cevada. Essa proteína é composta por duas substâncias que ajudam as massas crescerem e ficarem macias, o que explica sua onipresença na culinária ocidental.

Entretanto, na última década, o glúten foi associado a malefícios para a saúde, como contribuir para a inflamação do organismo e o desenvolvimento de doenças como diabetes, pressão alta e obesidade.

— Há uns 10 anos começou um movimento de demonização do glúten e, consequentemente, do pão, com a publicação de diversos livros que colocavam o glúten como um agente inflamatório e causador da obesidade. Mas pesquisas mostraram que além de não fazer mal, o pão é uma excelente fonte de energia. Alguns trabalhos mostraram até mesmo que simplesmente tirar o glúten da alimentação, sem uma orientação nutricional adequada, propicia o ganho de peso — diz a nutricionista Priscilla Primi, colunista do GLOBO e mestre pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).

De fato, existe um grupo de indivíduos para quem o consumo de glúten faz mal e é completamente contraindicado, que são pessoas com doença celíaca, patologia autoimune ocasionada pela intolerância ao glúten. Ao consumir alimentos derivados da proteína, o próprio sistema imunológico do paciente agride as células do organismo, causando inflamações intestinais. Há ainda pessoas com sensibilidade ao glúten que podem se beneficiar da retirada ou redução desse componente na alimentação.

Nestes casos, os sintomas não são tão graves quanto o de pessoas celíacas, mas ainda podem causar desconforto, em especial no sistema gastrointestinal. Enquanto os celíacos devem eliminar completamente o glúten da dieta, pessoas com sensibilidade à proteína podem consumir pães de fermentação natural ou longa fermentação, por exemplo, pois esse processo ajuda na digestão e gera menos desconforto.

Como para todo vilão tem um herói, no caso do glúten, a heroína é a tapioca. Por muitos anos, esse alimento derivado da mandioca foi aclamado como o substituto “saudável” do pão, além de ser um aliado do emagrecimento. Na prática, não é bem assim.

— A tapioca não é mais saudável do que o pão francês, a não ser para esse público que tem a doença celíaca. Se pegarmos a tabela nutricional da tapioca e comparar com a do pão francês, a tapioca tem mais carboidrato e menos fibras, o que é muito importante no processo de emagrecimento, controle da glicose e do colesterol. Além disso, a tapioca tem índice glicêmico alto, que é a velocidade que o corpo libera o carboidrato na corrente sanguínea — explica Monteiro.

Primi também ressalta que, em geral, uma porção de tapioca tem uma maior quantidade de farinha do que o peso de uma fatia de pão.

Deixemos bem claro que isso não significa que a tapioca é um alimento ruim. Apenas é preciso esclarecer que a tapioca por si só não vai ajudar a emagrecer ou a deixar a barriga chapada. Em termos nutricionais, tanto a tapioca quanto o pão francês têm a função de fornecer energia e podem fazer parte de uma alimentação saudável. A escolha fica a critério do freguês, por assim dizer.

O pão de queijo é outra opção no lugar do pão francês, assim como a tapioca e o cuscuz nordestino. Por ser feito de polvilho, que também é um derivado da mandioca, o alimento tem a mesma função de fornecer energia. Só é preciso estar atento porque como sua composição também inclui ingredientes como queijo, óleo e, dependendo da receita, ovos, ele é mais calórico e tem mais gordura.

A hype low carb

Não foi apenas a presença do glúten que desbancou o pão francês das dietas por muito tempo, mas também o aumento da popularidade de dietas com baixo teor de emagrecimento ou simplesmente “low carb”. Esse tipo de alimentação limita o consumo de carboidratos, como grãos, vegetais ricos em amido e frutas, e prioriza a ingestão de alimentos ricos em proteínas e gorduras.

Por ser rico em carboidratos, o pão é um dos primeiros eliminados desse tipo de dieta, assim como a tapioca. Entretanto, justamente por reduzir drasticamente o consumo do grupo alimentar responsável por fornecer energia ao corpo, esse tipo de dieta é difícil de ser mantida no longo prazo e, em pouco tempo, o pão volta para a alimentação.

Mas, afinal, é possível quem quer emagrecer manter o pão na alimentação? Os especialistas são categóricos em dizer que sim.

— Quando a gente fala em uma alimentação saudável e emagrecimento, um ponto muito importante é levar em consideração os costumes das pessoas. Por exemplo, o Nordeste tem o costume de comer tapioca, não tem como a gente tirar a tapioca de uma pessoa que tem costume de comê-la. O brasileiro tem costume de comer pão francês. Não retirar aquilo que as pessoas estão acostumadas a comer, só adaptar as quantidades, é muito importante no processo de emagrecimento — avalia Monteiro.

Para quem quer emagrecer, Primi recomenda comer metade ou um pão francês por dia, de preferência integral, que tem um valor nutricional melhor por ter mais fibras e nutrientes. Circulam nas redes sociais publicações de nutricionistas recomendando comer o pão francês comum, que não integral, como pré-treino. Segundo Monteiro, isso é indicado porque o objetivo dessa refeição é fornecer energia para o treino. Por outro lado, em outros momentos do dia, esse pico de energia fornecido pelo carboidrato refinado pode gerar um efeito rebote e causar mais fome.

Quando um carboidrato refinado é ingerido sozinho, como um pão com geleia ou uma tapioca recheada com leite condensado, isso causa um pico de glicose no sangue, seguido de uma queda abrupta. Essa queda brusca da glicose sanguínea causa uma espécie de efeito rebote, que gera muita fome porque um dos sinalizadores de fome é a quantidade de glicose circulante no sangue.

Para impedir que isso aconteça, a vida é sempre consumir um carboidrato – o pão francês – em conjunto com uma proteína. Quando o carboidrato é combinado com uma fonte proteica, como um ovo, patê de atum ou de frango, queijo ou pasta de grão-de-bico, a digestão fica mais lenta, o que não gera o pico nem a queda abrupta de glicose no sangue e mantém a saciedade por mais tempo.

Por: O Globo