Governo Lula vê Brasil com alguns ganhos na crise do tarifaço, mas teme imprevisibilidade de Trump

Empresários brasileiros afirmam que o momento é de intensificar os contatos nos EUA, para protegerem suas exportações

Governo Lula vê Brasil com alguns ganhos na crise do tarifaço, mas teme imprevisibilidade de Trump
O presidente Lula e o americano Donald Trump — Foto: Fotos da AFP

Os últimos acontecimentos relacionados à crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, todos concentrados nesta quarta-feira, acabaram melhorando a posição de desvantagem do governo brasileiro em relação à Casa Branca. No entanto, interlocutores envolvidos no assunto, em Brasília, afirmam que não é possível cantar vitória neste momento, devido ao quadro de imprevisibilidade que se tornou marca da gestão do presidente americano Donald Trump.

Em uma avaliação preliminar, o adiamento, em sete dias, da data da vigência da sobretaxa de 50% sobre as exportações brasileiras, antes prevista para esta sexta-feira, e a exclusão de alguns itens da medida, como aviões da Embraer e suco de laranja, são resultados de um esforço que envolveu, principalmente, diplomatas e empresários brasileiros e americanos. A ideia era tentar rever o quadro de politização de uma questão comercial, que começou no início deste mês.

Essa politização começou no último dia 9, em uma carta de Trump dirigida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na correspondência — devolvida ao governo americano no mesmo dia pelo Itamaraty, por ter sido considerada inaceitável — o líder dos EUA relacionava o tarifaço ao que chamou de perseguição do ex-presidente Jair Bolsonaro. O mandatário americano também citou a regulação das big techs e disse, de forma equivocada, que o Brasil tem superávit no intercâmbio de bens com seu país.

Um ponto de destaque, que foi comemorado nesta quarta-feira por integrantes do Palácio do Planalto e do Itamaraty, foi o encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio.

Desde que o chefe da diplomacia dos EUA assumiu o posto, Vieira tentava um contato, tendo em vista a densa agenda nas relações entre Brasil e EUA. Somente ontem essa reunião aconteceu, o que indica que os canais com Washington estão reabertos no campo diplomático.

Empresários brasileiros afirmam que o momento é de intensificar os contatos nos EUA, para protegerem suas exportações. Além de contatos com parlamentares republicanos, do partido de Trump, o próximo passo é buscar o apoio de governadores em que estados que serão afetados pelo encarecimento dos insumos importados do Brasil.

Com apoio das indústrias americanas, os empresários brasileiros vão reiterar que o Brasil exporta mais produtos primários e insumos para os EUA e, por isso, não há competição. Dirão que há investimentos importantes naquele país, que máquinas e equipamentos sobretaxados não poderiam ser enviados a curto prazo para outros mercados e que pelo menos um terço do comércio entre Brasil e EUA se dá entre as mesmas companhias.

Para integrantes do governo Lula, o cenário é incerto. Existe a expectativa de Trump continuar tentando interferir nas decisões do Judiciário brasileiro, apesar de Lula dizer, repetidas vezes, que o Brasil é soberano e tem poderes independentes.

A atual percepção é que os EUA querem mais do que dificultar o comércio. Além de terem acesso a minerais críticos e estratégicos, como lítio, nióbio e terras-raras, a Casa Branca abriu uma investigação sobre práticas comerciais no Brasil, sujeitas à elevação de tarifas como punição, que atingem o sistema de pagamentos instantâneos brasileiros largamente utilizado no país, que é o Pix.

Por: O Globo