Em votação relâmpago, Congresso do Peru destitui a presidente Dina Boluarte; Chefe do Parlamento assume interinamente

Diante da ausência de um vice-presidente, José Jerí prestou juramento ao cargo por um período que se estenderá até julho de 2026

Em votação relâmpago, Congresso do Peru destitui a presidente Dina Boluarte; Chefe do Parlamento assume interinamente
Dina Boluarte, presidente do Peru destituída nesta sexta-feira — Foto: AFP

O Congresso do Peru destituiu, nas primeiras horas desta sexta-feira, a presidente Dina Boluarte, em um julgamento político relâmpago aprovado diante da crise de insegurança em que o país está mergulhado. A mandatária, de 63 anos, foi afastada do cargo que exercia desde dezembro de 2022 com o voto de 118 congressistas. Diante da ausência de um vice-presidente, José Jerí, chefe do Parlamento, prestou juramento ao cargo por um período que se estenderá até julho de 2026.

Desde 2016, o país andino teve sete presidentes: três destituídos pelo Congresso, incluindo Boluarte, dois que renunciaram antes de enfrentar o mesmo destino, um que completou seu mandato interino e agora Jerí.

— O principal inimigo está fora, nas ruas, os grupos criminosos, as organizações criminosas, eles são hoje nossos inimigos, e aos inimigos devemos declarar guerra — afirmou o novo presidente ao prestar juramento.

Jerí completará o mandato que Boluarte exercia desde dezembro de 2022, quando assumiu o cargo após o impeachment e prisão do ex-presidente Pedro Castillo. Ele será responsável por liderar o país até as próximas eleições, marcadas para abril de 2026, e a transferência presidencial, marcada para 28 de julho.

Após a destituição, aprovada com o voto de 122 parlamentares segundo a apuração final do Congresso, cerca de cem pessoas celebraram em frente à sede do Congresso com uma bandeira do Peru, segundo um jornalista da AFP. "Cai, Dina! Fora, pacto mafioso!", dizia um dos cartazes segurados por um dos manifestantes.

A maioria parlamentar havia aprovado na quinta-feira quatro moções de vacância contra Boluarte, invocando sua "permanente incapacidade moral" para liderar o Executivo.

— O país foi maltratado pelo gabinete e pela presidente. A extorsão, a criminalidade aumentaram, mas ela continua vivendo em uma fantasia. Merece ser punida — disse a congressista Norma Yarrow, do partido de direita Renovação Popular.

Boluarte se recusou a comparecer ao Congresso que a havia convocado na noite de quinta-feira para se defender no julgamento político. Seu advogado Juan Carlos Portugal alegou falta de garantias ao "devido processo" pelo pouco tempo para preparar a defesa.

— Em todo momento invoquei a unidade, a trabalhar juntos (...) Não pensei em mim, e sim nos mais de 34 milhões de peruanos — disse nesta sexta-feira Boluarte após sua destituição, em uma mensagem que foi interrompida pelo canal estatal.

Acuada por protestos e escândalos de suposta corrupção que sempre negou, Boluarte não tinha margem para permanecer no cargo. Durante sua gestão, conseguiu fazer pactos burocráticos com as forças conservadoras em troca de não votarem, até agora, nenhum pedido de destituição, o que lhe permitiu sobreviver a vários escândalos que reduziram sua popularidade a níveis recordes.

Entretanto, sua governabilidade se deteriorou nos últimos meses em meio à onda de extorsões e assassinatos ligados ao crime organizado, algo jamais visto no Peru. As manifestações vinham pressionando a presidente a partir de diversos setores, e Lima se tornou o foco do descontentamento.

Na segunda-feira, transportadores paralisaram parcialmente a capital peruana, e na quinta-feira pistoleiros feriram quatro músicos e um vendedor durante um show no sul da cidade.

Escândalos e processos

Boluarte assumiu em 7 de dezembro de 2022, após Castillo ser destituído e preso. A então vice-presidente chegou ao poder após a tentativa fracassada do líder de esquerda de governar por decreto.

Sua ascensão foi marcada por protestos reprimidos com violência pelas forças de segurança, que deixaram cerca de 50 mortos, segundo organizações de direitos humanos.

O Ministério Público do Peru a investigava por esse caso, além de outros dois processos: um por suposto abandono de cargo, quando se submeteu a uma cirurgia plástica no nariz sem avisar ao Congresso, como exige a lei; e outro pelo chamado “Rolexgate”, escândalo que estourou em 2024, quando a mandatária apareceu usando joias de luxo não declaradas em sua lista de bens.

Com a destituição, Boluarte perde o foro e poderá ser processada e condenada.

Atualmente, os ex-presidentes Alejandro Toledo e Ollanta Humala estão presos por corrupção em uma penitenciária especial no leste de Lima. Castillo está detido no mesmo local, aguardando julgamento por sua tentativa de dissolver o Parlamento.

Fonte: Globo.com