Governo Lula quer atrair dos EUA cientistas afetados por ataques de Trump

O governo Lula (PT) lançará medidas para tentar atrair pesquisadores e cientistas, principalmente brasileiros, que tenham suas bolsas cortadas ou se sintam ameaçados por Donald Trump, nos EUA. Ao UOL, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, detalhou as iniciativas que serão anunciadas nos próximos dias.

Nos últimos meses, a Casa Branca suspendeu milhões de dólares em repasses para pesquisas científicas nos EUA, encerrou vistos de cientistas e passou a ameaçar universidades. Nesta semana, Trump chegou a anunciar o veto à universidade de Harvard para a matrícula de alunos estrangeiros, medida que foi derrubada na Justiça.

A ofensiva contra os centros de pesquisa nos EUA levou a Europa a criar um fundo de 500 milhões de euros para atrair os cientistas que estão sendo expulsos ou ficando sem recursos nos centros americanos.

Agora, o governo brasileiro quer se lançar na captura desses mesmos pesquisadores. Segundo Padilha, três medidas serão anunciadas nas próximas semanas nesta direção.

Uma delas visa atrair pesquisadores do setor que atua no desenvolvimento de vacinas com a tecnologia mRNA. O segmento, que foi central na velocidade da disponibilidade das doses contra a covid-19, foi alvo de cortes de recursos nos EUA, com centros sendo obrigados a demitir funcionários e encerrar linhas de pesquisa.

Durante a pandemia, a tecnologia salvou 3 milhões de vidas pelo mundo, segundo um levantamento da Commonwealth Fund. A mesma tecnologia agora começa a ser desenvolvida para vacinas para dezenas de doenças, inclusive contra o câncer.

"Vamos antecipar a implementação das plataformas de pesquisa nessa área na Fiocruz e no Instituto Butantan", explicou Padilha. Segundo ele, no dia 29 de maio, será anunciada uma nova rodada de investimentos no complexo de saúde e a atração de pesquisadores estará entre as principais considerações.

Outro eixo, segundo Padilha, é a facilitação para a realização de pesquisas clínicas no Brasil. Mais uma vez, a esperança do governo é de que isso ajude na busca por cientistas.

Em 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou um novo marco regulatório para pesquisa clínica. Agora, o Ministério da Saúde está desenvolvendo sua regulamentação. "A ideia é que isso crie espaço para o desenvolvimento mais rápido de pesquisas e que atraia pesquisadores que estão se afastando dos EUA", disse o ministro.

Ele acredita que nem todos deixarão fisicamente os EUA e continuarão morando nas cidades americanas. "Mas eles podem colaborar a distância e em redes", disse.

O terceiro eixo será a publicação de um edital por parte do Ministério de Ciência e Tecnologia para facilitar o financiamento a pesquisadores brasileiros que queiram voltar ao país ou colaborar.

Segundo Padilha, o governo já adotou uma linha nesse sentido desde 2023 e, em dois anos, 2.500 mil cientistas passaram a usar os mecanismos criados pelo Brasil. "Agora haverá um edital específico para atrair quem estiver nos EUA", contou.

O chefe da pasta da Saúde acredita que isso pode atrair tanto aqueles pesquisadores que tiveram seus financiamentos cortados ou que se sintam perseguidos. "Há quem não se sinta mais seguro nos EUA", disse.

Padilha também indicou que tem discutido o assunto com a indústria farmacêutica, criando condições para que contratem pesquisas e cientistas no país.

Fonte: Uol