Casamentos acabam cada vez mais cedo; o que mudou nos relacionamentos?
O livro "Amor Líquido", do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, é de 2003, mas se faz atual a cada ano que passa. Na obra, Bauman fala sobre como as relações são frágeis e se tornaram descartáveis. E é exatamente isso que os especialistas entrevistados por Universa constatam nos consultórios de terapia quando o assunto é casamento.
Segundo dados divulgados pelo IBGE em março deste ano, em 2022, 47,7% dos divórcios aconteceram menos de dez anos após o casamento. Outro dado que chama atenção é: houve um divórcio para cada 2,3 casamentos no período.
Não precisa ser profissional para perceber esse fato, afinal, no seu círculo social deve ter ao menos um casamento que acabou em dois, três e até cinco anos de união, não é mesmo? Mas vamos ao que dizem os especialistas:
Crises acontecem antes
Segundo informações do Instituto Sedes Sapientiae, entre 2000 e 2010, os casais procuravam terapia quando já tinham entre 11 e 20 anos de casado, agora, as queixas chegam com relacionamentos de até cinco anos. Acredita-se que o fim do preconceito com esse tipo de serviço pode ter influenciado, sim, a procura precoce. Mas a tendência do mundo atual, que vende a perfeição, é que as pessoas busquem também a relação perfeita - algo que não existe. Nesse contexto, é natural que a intolerância diante dos problemas vença a urgência da necessidade de uma vida feliz.
Divórcios são mais comuns em casamentos de dois ou três anos
Para os especialistas consultados, se o fim acontece antes de dois ou três anos, foi uma ilusão, uma paixão arrebatadora ou o sonho de se casar maior do que a vontade real de ficar junto.
Um ponto importante que faz os relacionamentos, em geral, durarem, são os planos, além dos sentimentos, claro. Quando o casal passa pelo ritual do casamento e depois pelas datas comemorativas — Natal, Réveillon, aniversários — e até as primeiras férias casados, no segundo ano já não tem o mesmo encanto e aí, no terceiro, diante de qualquer brecha ou insatisfação, termina. Nesses momentos de frustração, os projetos em comum dão grande suporte para a união.
Dificuldade de se colocar no lugar do outro é um problema
As novas gerações não toleram esperar e têm dificuldade de se colocar no lugar do outro. Além disso, a liberdade de se relacionar proporciona esse movimento. O problema é que o custo emocional, que pode ser extremamente desgastante, não é levado em consideração.
Para as especialistas, o significado do casamento mudou da base do amor romântico para algo que se faz apenas enquanto é "confortável e conveniente". E isso reflete uma mudança sociocultural, até mesmo pela aceitação e facilidade do divórcio. Hoje, a sexualidade e a busca pelo prazer e felicidade estão em primeiro lugar.
Fontes: Marcia Barone, psicologa e psioterapeuta; Maria Cristina Romulado, doutoranda na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), psicóloga e terapeuta sexual; Rosa Maria de Macedo, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)