Homens pagam até R$ 11 mil para conhecer 'sugar babies' em festa particular
Evento nesta quinta marcou os 10 anos de existência de aplicativo de namoro 'sugar'

Quando os diretores do aplicativo de relacionamentos MeuPatrocínio decidiram fazer uma festa para comemorar seus dez anos de existência —e 16 milhões de inscritos—, eles pensaram que R$ 15 mil seria um bom preço de ingresso. Estaria de acordo com o patrimônio milionário dos "sugar daddies" e da expectativa de exclusividade das "sugar babies".
Mas, ao preencherem as informações em uma plataforma de venda de ingressos, o espaço para colocar o preço não admitia sete dígitos, apenas seis. A saída foi deixar o bilhete por R$ 9.999,99, incluir os 10% da taxa de conveniência e pronto, não se fala mais nisso.
Pelo menos dez homens compraram, segundo o MeuPatrocínio. Afinal, só para usar o aplicativo, o sujeito paga R$ 357 ao mês. Se quiser ser um membro elite, são R$ 999 mensais, com direito a uma coroa e a aparecer melhor nas buscas das garotas.
O convescote VIP aconteceu na noite desta quinta-feira (28), em um espaço para eventos a poucos passos da meca do dinheiro paulistano, a avenida Faria Lima.
"Sugar daddies" e "sugar babies" circulavam com máscaras venezianas, enquanto bebericavam drinques exclusivos com bebidas importadas e lambiscavam quitutes com presunto cru, queijo de cabra ou ovas de peixe.
Embora os termos "sugar daddy" e "sugar baby" tenham nascido há mais de 100 anos, esse estilo de namoro voltou à baila lá fora no início dos anos 2000. A relação exige um homem maduro e já bem-sucedido de um lado e uma jovem atraente e ambiciosa do outro.
Um oferece mesada, viagens, bolsas, jantares finos e ajuda com contas mensais, e a outra retribui com companhia, afeto e —muitas vezes, mas não obrigatoriamente— sexo.
Nem todos pagaram R$ 11 mil para estar na festa da Vila Olímpia, apenas cerca de dez. Outros 40 homens pagaram cerca de R$ 3.000 —não tendo acesso a um espaço mais exclusivo. E, se algumas das cem mulheres presentes receberam convites gratuitos, outras resolveram fazer um investimento.
Giovanna, que preferiu não dizer seu sobrenome, comprou o ingresso por cerca de R$ 350, mais passagem de Brasília e hospedagem em São Paulo. Gastou mais de R$ 1.000 para participar, isso sem falar no aluguel do vestido.
Ela já teve dois "sugar daddies", mas diz que o primeiro foi inesquecível. "Ele me dava uma mesada de 25 k", diz ela. No mundo da Faria Lima e adjacências, ninguém fala "mil" ou "dois mil".
Fala-se "um k" e "dois k". Vinte e cinco k. Trezentos k (leia-se cá). A nomenclatura volta ao normal quando chegamos ao milhão.
"Meu patrimônio não é grande, uns dois milhões", diz o "sugar daddy" que pede para ser chamado apenas de Almirante. "Eu procuro levar uma vida muito simples. Meu luxo é mimar minha baby."
Ele calcula gastar de R$ 10 mil a R$ 12 mil com ela todo mês, mas não é isso o que oferece de mais valioso. "Me aposentei e tenho tempo. Eu tenho tempo para dedicar à minha baby", explica o Almirante, 55, divorciado e já com filhos criados.
O relacionamento sugar é aquele velho namoro por interesse, com a diferença de que, agora, a prática é bem-vista —pelo menos entre os praticantes. O próprio nome da plataforma, "meu patrocínio", evidencia isso. Outros sites de relacionamento sugar são Universo Sugar, My Sugar Daddy, Meu Rubi, Me Mima, Glambu e Sudy.
"Antigamente, a mulher era dona de casa e o homem era o responsável financeiro da relação. Ela não tinha voz e isso era ‘normal’. Hoje em dia, a mulher tem voz. Eu vejo a 'sugar baby' como uma mulher empoderada, que escolhe com quem quer sair e não precisa se submeter a nada. Isso a gente deixa sempre bem claro", conta a vice-presidente de marketing do MeuPatrocínio, Queila Farias.
Pela festa, as moças flanam em longos de veludo, seda ou cetim, com decotes e saltos altos. Nem todas escondem de suas famílias o status de "sugar baby".
"Todo mundo que me conhece sabe", conta, com nome e sobrenome, Carla Rodrigues Arruda. Ela tem um "sugar daddy" inglês. "Milionário, jovem, lindo. Ai, ele é tudo de bom", garante a sorocabana, que trabalha na venda de imóveis.
E Carla tem um sonho, aquele sonho clássico, de Cinderela mesmo, que é casar com seu príncipe encantado. Depois disso, ela até dispensaria a mesada de R$ 4.000.
"No meu caso não é sobre o dinheiro, é sobre o valor", diz a infuencier Graciane Cabrera. "Eu trabalho, sou formada em contabilidade, não tenho dificuldade, mas quero namorar um homem que pode me ensinar. Por exemplo, um cara que é muito foda na sua área profissional, eu quero ser foda igual a ele. É por isso que eu procuro homens bem-sucedidos."
Para Letícia Plum, a família não só sabe como incentiva. Ela e a mãe vieram de Pouso Alegre (MG), para ficar na casa de uma prima, especialmente para a festa.
"Porque eu estava meio desanimada hoje e pensando em não vir. E ela falou ‘não, a gente está aqui, vai, sim. Já alugou o vestido, vai lá, linda, maravilhosa’. A minha mãe super me apoia em tudo", conta Letícia
Para ela, o preconceito com o romance sugar vem mais de mulheres do que de homens. "Tem muito mais mulher que não entende e já acha que você é prostituta, garota de programa, acompanhante, enfim, essas coisas. Mas, das pessoas da minha vida, meus amigos, meus familiares, todo mundo sabe, todo mundo entende."
Fonte: Folha de S. Paulo