Com 58 corpos levados para praça na Penha, sobe para 122 número de mortos na operação mais letal do Rio; vídeo
Cadáveres teriam sido retirados da área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde ocorreram os confrontos mais violentos entre policiais e traficantes
Ao longo da madrugada e da manhã desta quarta-feira, 58 corpos foram levados até a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio. Os cadáveres foram retirados da mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde ocorreram os confrontos mais violentos entre policiais e traficantes na megaoperação de terça-feira. Com isso, sobe para 122 o número de mortos na ação mais letal da polícia no estado. Entre os que acompanham a cena predomina o silêncio profundo, enquanto muitos se aproximam para tentar reconhecer os mortos. Pessoas com luvas estão cortando partes das roupas dos mortos para facilitar a identificação. É esse grupo que contabiliza os mortos.
O número de mortos ainda pode aumentar. Segundo a TV Globo, sete corpos foram deixados, também nesta quarta-feira, no Hospital estadual Getúlio Vargas, que concentrou o atendimento aos baleados na megaoperação.
Às 3h, uma fileira de cadáveres começava se formar na Praça São Lucas. Nas horas seguintes mais corpos foram levados até o local. Eles chegaram no endereço transportados em caçambas de caminhonetes e são retirados pelos próprios moradores, antes de serem adicionados à fileira que já soma dezenas de mortos. No início da manhã, por volta de 7h30, mais corpos ainda chegavam à praça.
Pouco antes das 8h três rabecões se posicionaram perto dos cadáveres. A maioria deles começou a ser descoberta, enquanto centenas de pessoas acompanhavam a cena.
— Cadê o meu filho? — gritou uma mulher.
Algumas pessoas argumentaram que um dos homens teria se entregado à polícia e, mesmo assim, foi morto.
— Nunca vi isso — diz um morador.
Os moradores da comunidade se aproximam dos mortos e levantam os lençóis e cobertores que os cobriam para ver os seus rostos e reconhecê-los. No entorno, dezenas de pessoas observam a cena e apontam para os corpos, enquanto outros limpam as lágrimas. Em dado momento, os moradores rezaram um Pai Nosso. Uma família se ajoelhou ao redor de um dos mortos:
— Como pode destruir tantas famílias, tantas vidas? E ficar por isso mesmo? — disse a mãe, enquanto passava a mão no rosto do filho morto.
O ativista Raull Santiago esteve entre aqueles que viraram a madrugada em busca de corpos na favela. Na manhã desta quarta-feira, ele publicou um vídeo nas redes sociais enquanto estava na área de mata que liga o Complexo do Alemão ao Complexo da Penha. Santiago, que estava acompanhado de moradores e advogados, descrevia já ter encontrado doze corpos. Na gravação, ele mostrou marcas de sangue espalhadas na terra.
— Não dormi ainda. Amanheci aqui nesse caos. Não estou achando palavras. Estou com nojo — disse o ativista, que horas depois compartilhou outro vídeo no Instagram, já fora da mata — A ficha está começando a cair. O grito, o choro. E tem mais corpos chegando, os carros acabaram de subir, porque mais pessoas foram encontradas na favela.
Fonte: Globo.com



