Trama golpista: veja o que pesa contra Bolsonaro e os outros sete réus que serão interrogados nesta semana
Depoimentos terão início na tarde desta segunda-feira e serão realizados na sede do STF, com exceção de Braga Netto, que participará das audiências por videoconferência

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus acusados de integrarem o núcleo crucial da trama golpista serão interrogados no Supremo Tribunal Federal (STF) a partir desta segunda-feira (09/06). A nova fase do julgamento acontece após terem sido ouvidas testemunhas indicadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelas defesas dos acusados. Desde março, quando a denúncia foi aceita pela Primeira Turma, eles respondem formalmente pelos crimes de tentativa de golpe, abolição do Estado Democrático, organização criminosa e dano ao patrimônio.
As falas serão transmitidas ao vivo pela TV Justiça e pelo canal do YouTube do Supremo e terão início amanhã a partir das 14h. Caso os interrogatórios não sejam concluídos no primeiro dia, outras quatro sessões também foram marcadas para acontecerem nas seguintes datas: 10/06 às 9h; 11/06 às 8h; 12/06 às 9h e 13/6 às 9h.
Veja a seguir as acusações que pesam contra cada um dos réus que serão interrogados nesta semana:
Jair Bolsonaro
Durante os depoimentos das testemunhas nas últimas semanas, foram ouvidos os ex-comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, que confirmaram a participação em reuniões no Palácio do Alvorada sobre a trama golpista. Convocados pelo ex-presidente, os encontros tiveram como pauta principal a discussão sobre a instauração de medidas de segurança, como estado de sítio ou uma GLO (Garantia da Lei da Ordem), após as eleições de 2022.
A ocorrência dos encontros já havia sido constatada pela PF, que também apontou que Bolsonaro "analisou e alterou uma minuta de decreto" com teor golpista. Além disso, investigadores também citaram indícios de que o ex-mandatário sabia do planejamento da atuação dos chamados "kids pretos" para matar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, em um plano denominado "Punhal Verde Amarelo".
Walter Braga Netto
Quando a denúncia apresentada pela PGR foi aceita pela Primeira Turma, Moraes apresentou mensagens enviadas por Braga Netto a interlocutores militares, trazidas à tona no relatório da investigação pela PF. Nos registros, o general usa palavrões para criticar os então comandantes do Exército e da Aeronáutica por não aderirem à trama golpista.
Ainda de acordo com a PF, Braga Netto teria participado de reuniões em julho de 2022 para a discussão de estratégias para a difusão de informações falsas sobre o processo eleitoral. A casa do general, segundo investigadores, também teria sido usada para um dos encontros nos quais houve o planejamento do plano "Punhal Verde-Amarelo". O general também foi acusado, pelo tenente-coronel Mauro Cid, de distribuir dinheiro para o financiamento do plano dentro de uma caixa de vinho.
Preso desde dezembro do ano passado em uma unidade militar no Rio de Janeiro, ele deverá ser o único réu interrogado nesta semana por videoconferência.
Anderson Torres
O ex-ministro da Justiça é suspeito de ter utilizado o cargo para "atuar contra as instituições”. Ao analisar a denúncia contra ele em março, Moraes citou um depoimento de Torres em agosto de 2021, após ter auxiliado ataques de Bolsonaro ao sistema de votação, no qual “confessou que mentiu” sobre suposta “existência de fraude ou manipulação de votos”. Ainda assim, lembrou Moraes, ele teceu novos ataques durante uma reunião ministerial no ano seguinte.
Em 2023, a PF também encontrou na casa de Torres registros da "minuta do golpe". O documento era datado de 2022, com dia e mês em branco, e o nome de Bolsonaro, mas não chegou a ser assinado.
Alexandre Ramagem
De acordo com a PF, foram encontrados indícios de que ele comandou um esquema de espionagem clandestina no período em que chefiou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), no governo Bolsonaro. Ramagem teria mantido arquivos, registrados em seu e-mail, com orientações ao ex-presidente sobre ataques às urnas eletrônicas. Durante a análise da denúncia contra ele no início deste ano, a atuação dele também chegou a ser comparada pela ministra Cármen Lúcia a um “ninho de arapongas”.
O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, segundo a PF, participou de uma reunião ministerial de 2022, convocada por Bolsonaro — e cuja gravação foi apreendida no computador do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Na ocasião, o general mencionou um “esquema” montado junto à Abin para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais. No encontro, Heleno também teria dito que o objetivo era “acompanhar o que os dois lados estão fazendo”, mas ponderou que seria um “problema vazar qualquer coisa em relação a isso”.
A PF também detectou que ex-assessores de Bolsonaro que planejavam matar autoridades pretendiam instalar um "Gabinete de Crise" com Heleno no comando e Braga Netto de "coordenador-geral".
Paulo Sérgio Nogueira
Segundo a denúncia feita pela PGR, o ex-ministro da Defesa participou de reuniões em que Bolsonaro discutiu a minuta do golpe e tentou intervir para “alterar a conclusão” do relatório das Forças Armadas sobre a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro. Nogueira e outros integrantes da trama golpista, conforme os investigadores, trabalharam para que o documento em questão, que não encontrou qualquer indício de fraude, tivesse uma roupagem “evasiva” com o objetivo de “evitar que a mensagem final sobre o processo eleitoral fosse positiva”.
Almir Garnier Santos
O ex-comandante da Marinha foi apontado por Moraes como alguém que “aderiu à elaboração de uma minuta de decreto de golpe de Estado”. Garnier também foi citado em depoimentos de Baptista Junior à PF e ao Supremo, nos quais ele confirmou que o militar colocou as tropas da força "à disposição" de Bolsonaro.
Mauro Cid
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro é acusado pela PF de ter agido na coordenação de estratégias para a tentativa de golpe de Estado em diferentes núcleos. Entre elas, de acordo com a investigação, ele teria participado do monitoramento dos passos de Moraes para o plano "Punhal Verde-Amarelo". Além disso, ele também teria feito registros de diversas reuniões para a discussão da trama golpista.
O tenente-coronel chegou a ser preso em 2023, mas foi solto após a homologação de um acordo de delação premiada, que serviu como base para a elaboração das acusações contra os principais alvos da ação penal analisada pela Primeira Turma. Como colaborador, ele será o primeiro a ser interrogado pela Corte nesta semana, enquanto os demais réus falarão em ordem alfabética.
Fonte: Globo.com