'Todos nós aqui te amamos': mãe se despede de jovem que morreu baleada na Linha Amarela

O cantor Buchecha, que cantou no casamento de Bárbara Borges, foi também ao velório se despedir da bancária

'Todos nós aqui te amamos': mãe se despede de jovem que morreu baleada na Linha Amarela
Marido de Bárbara Borges se despede da esposa, que foi morta na Linha Amarela. Casal planejava engravidar em 2026 — Foto: Gabriel de Paiva

'Eu te amo, filha. Todos nós aqui te amamos. Você foi uma das pessoas mais especiais que Deus colocou nesse mundo. A sua mãe te ama". Essas foram as últimas palavras de Beth diante do caixão de sua filha, Bárbara Borges, de 28 anos, antes da jovem ser sepultada nesse domingo. Ela foi morta com um tiro na cabeça durante um tiroteio na Linha Amarela, na altura da Maré.

O velório aconteceu neste domingo, Dia de Finados, no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio, e reuniu familiares, amigos e colegas de trabalho da jovem, que havia acabado de ser promovida no banco onde atuava. Em cima do caixão, a família depositou flores.

— Nossa flor-do-campo. Minha filha, eu te amo — disse Beth, com a voz trêmula.

A morte de Bárbara é mais um episódio trágico marcado pela violência armada. Ela voltava para casa em um carro por aplicativo quando o veículo ficou preso no fogo cruzado. O motorista foi atingido na mandíbula e segue internado em estado grave no Hospital Federal de Bonsucesso.

Planos de engravidar

Flores brancas e girassóis cercavam o caixão de Bárbara Borges, de 28 anos, morta com um tiro na cabeça durante um tiroteio na Linha Amarela, na altura da Maré. O corpo foi velado às 13h entre colegas, familiares, amigos — e dois nomes que testemunharam de perto capítulos distintos da vida dela: o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, e o cantor Buchecha.

Ferreirinha chegou cedo, em consideração à mãe da jovem. Beth era funcionária antiga da rede municipal de ensino.

— Não é a ordem natural da vida uma mãe ter que enterrar uma filha, especialmente numa circunstância como essa. A Bárbara era uma menina cheia de vida, criada em um lar de educadores. A Beth é nossa gerente de recursos humanos, a irmã dela dirige uma creche da rede. É de cortar o coração. A gente está buscando dar todo apoio possível à família nesse momento de tanta dor — disse o secretario.

Bárbara havia acabado de ser promovida no banco onde trabalhava. Sonhava com filhos, com uma casa própria, com o futuro que planejava ao lado do marido — o mesmo com quem o cantor Buchecha dividiu o palco do casamento deles, há três anos. O artista também foi até o cemitério, emocionado.

— Cantei no casamento deles, pessoas incríveis — lembrou. — Nos deixa tão cedo, por conta dessa violência que parece não ter fim. A gente precisa de uma resposta, de um basta. Queremos um Rio de Janeiro de paz.

Bárbara, segundo a família, era uma jovem alegre, dedicada e cuidadosa. Estava voltando para casa, dentro de um carro por aplicativo, quando o veículo ficou preso em meio a um confronto armado entre criminosos e policiais, na última sexta-feira. O motorista foi baleado na mandíbula e segue internado.

Sem tempo de se proteger, ela foi atingida por uma bala perdida. A família só soube do que havia acontecido quando o marido, que estava em São Paulo, rastreou o celular da esposa e viu a localização dentro do Hospital Federal de Bonsucesso.

— A gente achou que ela tivesse passado mal, que estivesse ferida… Mas ela já chegou praticamente morta — contou a sogra, Andréia Assis.

Segundo a tia de Barbara, Angelica Ávila, a jovem se preparava para ter filhos.

— Ela tinha tirado o chip hormonal, acho que faz um mês. E tinha falado à sogra que talvez no ano que vem fosse dar um neto — disse a tia.

Segundo ela, Barbara estava “toda feliz”, já que ia fazer uma viagem neste mês para comemorar a promoção junto com os amigos.

Por volta das 15h, era tanta gente para velar a jovem que nem cabia na capela 3. Uma multidão preencheu a entrada do Cemitério de Irajá, aguardando o momento do sepultamento.


Por: O Globo